São Paulo recebe espetáculo de Mário Viana, com direção de Bárbara Bruno
Pira, Pirandello, Pira
Baseado em obra de Nobel de literatura de 1934, a peça terá curtíssima temporada no Espaço dos Parlapatões
– de 12 de agosto a 10 de setembro –
Com texto de Mário Viana, direção de Bárbara Bruno, trilha sonora do Du Moreira, cenários e figurinos de Milton Fucci, livre adaptação de Uno, Nessuno e Centomila, de Luigi Pirandello – um dos maiores nomes da dramaturgia do século XX – fica em cartaz de
12 de agosto a 10 de setembro em São Paulo
** Estamos com a agenda aberta para entrevistas e encontros com Mário Viana, Bárbara Bruno e elenco, antes da estreia – consulte-nos e veja as datas disponíveis.
O dramaturgo italiano da Sicilia Luigi Pirandello (1867-1936), agraciado com um Nobel de Literatura em 1934 por sua “revitalização arrojada e engenhosa da arte dramática e cênica”, apresenta em Uno, Nessuno e Centomila, romance de 1909 - em tradução livre Um, nenhum, cem mil – seu eterno e penetrante questionamento sobre o que é “a verdade”, revelando assim as falsas impressões que surgem como respostas para essa questão. O relativismo que se evidencia vai do trágico ao cômico e arranca gargalhadas em sinal de concordância não só por conta da complexidade que se desenvolve de forma serena e natural: a coerência e contundência em questão ganha legitimidade, sobretudo pelo impacto fulminante na forma com que o dramaturgo traduz a máxima de que “as coisas nem sempre são o que parecem” (embora talvez sejam), pode ter na vida de um indivíduo.
De 12 de agosto a 10 de setembro o público terá a oportunidade de conhecer este universo de “desconstrução (ou construção) de identidade. Produção e elenco experientes encenam Uno, Nessuno e Centomila no Espaço dos Parlapatões - Praça Franklin Roosevelt, 158 – agora sob o título Pira, Pirandello, Pira. Protagonizada pelo ator Beto Bellini – que dá vida à Vitangelo Moscarda – a livre adaptação de Mário Viana, dirigida por Bárbara Bruno, ganha vida ainda pelos atores Cláudio Curi, Eliete Cigaarini, Vanessa Goulartt, Rafael Maia e Edu Guimarães. Completam a ficha técnica a trilha sonora de Du Moreira e os cenários e figurinos de Milton Fucci, além da coreografia de Paulo Goulart Filho.
* abaixo da descrição da peça, leia análises assinadas por Mário Viana e Bárbara Bruno
A peça
O personagem protagonista Vitangelo Moscarda é emblemático: ao notar que as pessoas têm uma impressão sobre ele absolutamente diferente da forma com que ele afirma (ou supõe) ser na realidade, Moscarda cai na insanidade. Ou será na realidade? Inicia-se, então, o processo de autoconsciência – talvez o mais agressivo da carreira de Pirandello. O tom sátiro da peça surge como ponto de equilíbrio à busca dramática e até trágica do protagonista por essa verdade logo na faísca da reviravolta que ele dará em sua vida.
Vitangelo Moscarda é um jovem herdeiro do banco de seu pai. Um dia, porém sua esposa, Dida, - interpretada por Eliete Cigaarini - lhe faz a seguinte observação: “seu nariz é ligeiramente torto”. Eis a “faísca” acima citada, que dá origem à busca do protagonista – em primeiro plano por sua identidade – e, de forma mais ampla, pela “verdade”. Moscarda, então, muda de vida: desiste de ser banqueiro, o que desaponta sua esposa - que sai de casa. Mesmo ao custo de sua ruína financeira e abandono de seu amor, Vitangelo encontra em um projeto de caridade o caminho para suas elucidações, o que também caracteriza o personagem como anti-herói – figura bastante presente no teatro da primeira metade do século XX. Sua busca chega a levá-lo a um hospital, onde os seus sentimentos se libertam. O esmagamento do ego, a mudança de atitude e postura do outro perante ao “novo ele” são algumas das percepções que permeiam a apresentação a ser vista nos Parlapatões.
Essa interrogação da veracidade da situação dramática ganha o tempero das provocantes rupturas do metateatro – recorrente nas peças de Pirandello – e que são contempladas em Pira, Pirandello , Pira. Acrescenta-se às referências e alusões a outras de suas peças durante a encenação, entre elas, Seis personagens à procura de um autor, uma das mais famosas. Toda a construção do espetáculo traz o espectador ao universo macro e o conduz ao detalhe do pensamento instigante do dramaturgo italiano. Mas talvez a melhor definição para sua busca seja mesmo a que dá título ao texto a ser interpretado a partir do dia 12 de agosto: Um, Nenhum, Cem Mil.
Pira, Pirandello, Pira !!!
Se eu tivesse absoluta certeza que meu nariz é reto diria que Pirandello é absolutamente louco !
A dúvida existe, portanto a sanidade é relativa, já que a retidão de meu nariz depende de quem o vê.
Sei que respiro mas apenas me parece, não afirmo, que de forma alguma as linhas de meu rosto determinam minha condição de respirar melhor ou pior.
Abre-se a cortina e num instante mágico, infinitas possibilidades se apresentam o que não impede que se tenha uma única versão de determinado ponto de vista.
Que jogo fascinante da máscara teatral que respeita a liberdade absoluta da incerteza e propõe um mergulho profundo sem rede protetora.
Salve (-me ) Pirandello !!!
Abraços
Bárbara Bruno ? ! – diretora
**Piraporque
Por Mário Viana
Quando Bárbara Bruno me propôs fazer a adaptação do romance Um, Nenhum e Cem Mil, de Luigi Pirandello, tremi nas bases. Já tinha lido o livro anos atrás e lembrava que era uma aventura desbravar a floresta intrincada dos raciocínios do autor siciliano. Pirandello não é mole, não. Mas, ao reler o romance e as peças, descobri a América, ou seja, me apaixonei por Pirandello e sua floresta de raciocínios intrincados.
Na recriação do romance e das peças para um outro espetáculo, visto pelos olhos de um dramaturgo, uma diretora e uma equipe totalmente ligados no século XXI, tentamos mostrar que Luigi Pirandello é mais contemporâneo que muito escritor badalado que circula por aí.
Há, em Pirandello, uma atualidade impressionante – a ideia de que a verdade muda conforme a pessoa que vê é uma prévia do que temos hoje, quando temos todos os nossos passos seguidos por câmeras de segurança. Cada uma nos mostra de um ângulo, desvenda nossos gestos, delata possíveis agressões... O mundo está cada vez mais “pirandelliano”.
Mário Viana, dramaturgo.
Serviço: Pira, Pirandello, Pira
12 de agosto a 10 de setembro
Local: Espaço dos Parlapatões
Endereço: Praça Franklin Roosevelt, 158 - São Paulo
Horários: sextas e sábados – à meia-noite (uma única apresentação por noite)
Duração: 60 minutos
Ingressos: R$ 30,00
Capacidade: 96 lugares
Gênero: Comédia Enlouquecida
Fone: 3258-4449- parlapatoes@uol.com.br
Aceita cartões: Visa / Master Card / American Express
Lanchonete no local
Bilheteria: das 16h às 22h
Ingresso Rápido: http://www.ingressorapido.com.br/evento.aspx?ID=16626
Ficha Técnica do espetáculo: Pira, Pirandello, Pira
Adaptação de texto: Mário Viana
Direção: Bárbara Bruno
Assistente de Direção: Samira Lochter
Elenco: Beto Bellini, Eliete Cigaarini, Cláudio Curi, Vanessa Goulartt, Edu Guimarães, Rafael Maia
Cenário e figurinos: Milton Fucci
Coreografia: Paulo Goulart Filho
Trilha Sonora: Du Moreira
Produção Marketing: Igor Guedes
Designer Gráfico: Leo Marino
Vídeo: Luís Felipe Minnicelli
Iluminação: Rodolfo García Vázquez
Fotografia: Damien Golovaty
Coordenação de Produção: Erika Barbosa
Diretora de Produção: Gisa Guttervil
Assistente de Produção e Visagista: Rafael Mendes
Núcleo de Produção: FAZ Centro de Criação
Assessoria de Comunicação: Parceria 6 Assessoria de Comunicação
Sobre Luigi Pirandello
Luigi Pirandello nasceu na Sicília em 1867 e morreu em Roma em 1936. É considerado um dos mais importantes escritores do século XX e precursor do teatro do absurdo, que seria desenvolvido nos anos 1950. Foi membro do Partido Fascista e participou ativamente da vida cultural italiana sob o domínio de Benito Mussolini, embora se recusasse a transmitir em suas obras qualquer mensagem relativa à sua posição política. Doutor em filologia pela Universidade de Bonn – Alemanha - com tese sobre o dialeto de sua cidade natal, revela grande preocupação lingüística em sua obra literária, boa parte dela escrita no dialeto siciliano.
Sobre Bárbara Bruno
Bárbara Bruno estreiou no palco do teatro sob a direção de Antunes Filho no espetáculo “Tome Conta de Amelie”, ao lado de Maria Della Costa. Escolheu o teatro como ofício e atuou em diversas montagens teatrais como "Direita, Volver!" de Lauro César Muniz, direção Emílio Di Biasi, “O Martelo”, “Laços Eternos”, “Crimes Delicados”, entre outras. Ampliou suas funções trabalhando também como diretora e produtora.
Sobre Mário Viana
Nascido em São Paulo, 11 de julho de 1960, Mário Viana é um jornalista e dramaturgo brasileiro. Formado em jornalismo pela Faculdades Cásper Líbero, trabalhou no jornal Folha de São Paulo, Veja São Paulo, atuou como editor de turismo no jornal O Estado de São Paulo, além de ter colaborado com um extenso leque de publicações.
Como dramaturgo, formou o Núcleo dos 10, sob orientação do também dramaturgo Luís Alberto de Abreu. Recebeu menção honrosa no Concurso Nacional de Textos Teatrais Inéditos de 2000, promovido pelo Ministério da Cultura, com a peça Flechadas do teu Olhar. Os textos Vamos? e Vestir o Pai também receberam prêmios em duas edições do concurso de dramaturgia promovido pela Secretaria de Cultura de Porto Alegre, em 2000 e 2001.
Teve montados três espetáculos com o Grupo Parlapatões: Mistérios Gulosos, Um Chopes, Dois Pastel e uma Porção de Bobagem e Pantagruel. Também foram montadas as peças Ifigônia, com as atrizes Rosi Campos e Zezeh Barbosa, e Verdades, Canalhas, dirigida por Hugo Possolo. A comédia Vamos? ganha montagem em Fortaleza. O monólogo Natureza Morta, inspirado numa tela do norueguês Edvard Munch, é montado no Recife, em São Paulo e Rio de Janeiro.
Sobre a FAZ Produções e Erika Barbosa - Produtora
A Faz Produções é coordenada por Erika Barbosa, com Luiza Gottschalk e Beto Bellini. Atua entre o eixo Rio/São Paulo há mais de 17 anos, produzindo diversos espetáculos. Entre as mais recentes produções de espetáculos, “O Última Stand Up” – estreia no Festival de Curitiba 2011; “19 Centímentros”, com direção Bárbara Bruno de Lauro César Muniz – Satyrianas – 25/11/2010; “Nó de Cachorro ou a Mandrágora Brasileira” , com direção de Nelson Xavier – Teatro Bibi Ferreira – Espaço dos Satyros Um e Espaço dos Satyros Dois – SP; “Hipóteses para o Amor e a Verdade”, com direção de Rodolfo García Vázquez - Espaço dos Satyros Um – Pça Roosevelt - e Festival de Ararquara em junho de 2010; “O Arquiteto e o Imperador da Assíria”, 2007 e 2009 no Rio de Janeiro – 2008 em São Paulo ; Produção da temporada carioca no Espaço Municipal Sérgio Porto dos espetáculos paulistanos do Grupo Os Satyros: “A Filosofia na Alcova”, “120 Dias de Sodoma”, “Justine”, “Liz” e “O Monólogo da Velha Apresentadora”; “Gotas ao Dia”, de Alessandro Toller e Tatiana Passarelli, direção Sérgio Sálvia Coelho - Teatro Augusta – SP; “Uma Coisa Muito Louca”, de Flavio de Souza, direção Roberto Lage com Luiza Gottschalk e Bruno Gradim. Teatro Bibi Ferreira – SP; “Um Passeio no Bosque”, de Lee Blessing, com direção de Emilio Di Biasi; entre outros trabalhos de igual importância.